sexta-feira, março 15, 2013

Carta à Mocidade Brasileira.




Gustavo Barroso.

Moços do meu Brasil,

O crepúsculo que Barbusse previu logo depois da grande guerra alastra pelo mundo as suas sombras tristes. O liberalismo impotente e hipócrita agoniza. O credo comunista cria duas humanidades, declarando que nem a morte apaga o antagonismo entre o operário e o burguês. Mais horrendo que o fantasma das discórdias civis, se ergue o espectro da guerra das classes. Ao embate das contradições, o nosso país corre para o naufrágio. Só a mocidade, que é o futuro, lhe resta como tábua de salvação, somente ela é capaz de renová-lo, como, ao som da Giovinezza, reformou a Itália, consertou Portugal e redimiu a Alemanha.

Do alto das serranias do meu pátrio Ceará, quando o sol inclemente das secas combure os esqueletos das caatingas e todo o sertão imenso se alonga nu e preto, as copas verdes dos juazeiros úteis e heroicos, cuja sombra abriga a rês sequiosa e o vaqueiro emagrecido, cuja rama e cujo fruto alimentam o gado e o retirante, pontilham a desolação. Quanto mais a estiagem se prolonga, quanto mais a canícula dos longos dias de estio calcina a terra infeliz, e mais cresce a solidão, e mais aumenta a agonia, mais viçoso, mais belo, mais senhoril e mais verde pompeia o juazeiro, como um estandarte de Esperança!

Sede como o juazeiro, moços do Brasil! Sede como o juazeiro, eretos, varonis e sempre cheios de fé, tanto mais eretos, mais varonis e mais cheios de fé quanto mais cresçam as dores, e aumentem as provações e se multipliquem as dificuldades!

Meu olhar se espraia pelos largos horizontes da Pátria e avista as negras nuvens que ficaram para trás, e os nimbos escuros que se adensam à nossa frente. A complexidade dos problemas nacionais desafia o esforço da geração nova. Na vasta planície lamacenta dos preconceitos e da inércia, das chatices e dos conchavos pessoais, os moços idealistas, ainda não contaminados pelas baixezas do ambiente, são os úteis e heroicos juazeiros verdes em que residem as derradeiras esperanças do Brasil, moços de hoje, homens de amanhã, construtores da futura sociedade.

Unicamente vós podereis opor barreiras intransponíveis ao alude das maiorias incapazes e aos assaltos das minorias estéreis que guerreiam a arte e a ciência, que combatem os mais altos, nobres e sagrados ideais humanos, pretendendo reduzir o panorama das pátrias a pântanos peçonhentos ou monótonas estepes moscovitas. Somente a mocidade poderá salvar o mundo.

Falo-vos com o coração, do meio do caminho de minha vida, em que não pratiquei um ato de que me possa envergonhar. Falo-vos com a convicção duma doutrina e com a força dum idealismo construtor. São já demasiadas as ruínas que enchem a superfície da terra. Antes de descer a ladeira sombria da montanha que trabalhosamente subi, sorrio de prazer, porque avisto por cima da paisagem causticada de sol, agitados ao vento da manhã radiosa, os verdes e gloriosos estandartes da mocidade!

(Transcrito na íntegra da página 07 até a 12 do Livro “O Integralismo em Marcha”. 1. ed. Rio de Janeiro: Schmidt, Editor.  1933.)

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