Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças ao laborioso e permanente trabalho de pesquisa do Prof. Victor
Emanuel Vilela Barbuy, renomado investigador e estudioso da História do Brasil,
do Direito Pátrio, da Doutrina Social da Igreja e do Integralismo, que
compartilhou conosco – de sua rica hemeroteca - o brilhante escrito de Miguel
Reale a seguir.
Victor Emanuel Vilela Barbuy, o mais brilhante Pensador Tradicionalista
contemporâneo, publicou recentemente o sensacional Livro “Plínio Salgado, a Semana de 1922 e o Modernismo” que pode ser
adquirido em https://loja.uiclap.com/titulo/ua39845/
Esquerda, direita e INTEGRALISMO (09/04/1937)
Miguel Reale
Si faltasse uma prova para demonstrar que o
Integralismo é um movimento político, nítida e puramente nacional, nossos próprios
adversários se encarregariam de no-la proporcionar com suas críticas e seus
combates.
Desde que apareceu o Sigma no campo da política
brasileira, temos sido violentamente combatidos pelas forças da Direita que nos
consideram um perigo para o predomínio que elas sempre exerceram nas esferas econômicas
da Nação. Compreendendo perfeitamente que o Estado Forte pelo qual propugnamos,
não poderá ser minado por suas influências ocultas como o débil e complacente
Estado liberal. Por outro lado, não deixam de acusar os camisas-verdes de
extremistas propugnadores de medidas financeiras e econômicas pouco diferentes
das que constituem o núcleo da doutrina comunista...
A atitude integralista em face da questão
social, a compreensão que temos da necessidade de distribuir justiça, a defesa
intransigente que fazemos dos direitos das massas trabalhadoras, a repulsa que
manifestamos pelas formas e os processos burgueses de apreciar os problemas da
coletividade, a nossa posição claramente firmada nos setores de todas as
atividades proletárias, a pregação que desenvolvemos para o alcance de uma nova
economia e de uma nova política, tudo isto apavora certos elementos da Direita
que não passam de egoístas e reacionários.
Por sua vez, as Esquerdas se colocam no polo
oposto, procurando formar no espírito do povo uma impressão desfavorável sobre
o Integralismo, por elas apresentada como simples perpetuação do poderio burguês
e capitalista. Para os homens do comunismo e do socialismo, o Sigma é símbolo de
opressão das massas, o emblema da reação patronal. Em verdade si as Esquerdas
tentam levantar contra nós uma onda de repulsa e de ódio, é porque sentem a
capacidade extraordinária que possuímos de conquistar o coração dos humildes e
arrebatar as forças populares. Sentem os agitadores vermelhos que, dia a dia,
vamos cativando a confiança das massas obreiras, sem nunca as arrastar à
estupidez da destruição de tudo o que constitui a herança espiritual da
civilização cristã.
Para as Direitas, o Integralismo é esquerdista;
para as Esquerdas o Integralismo é direitista. Analisando esses juízos tão contraditórios
dos dois grupos que encarniçadamente disputam o poder, o observador sincero e
imparcial é forçado a uma única conclusão que é a seguinte: o Integralismo nada
tem que ver nem com esquerdas, nem com direitas, pois é um movimento essencialmente
nacional, desligado de todo e qualquer grupo particular, inteiramente alheio às
disputas facciosas.
Em hipótese alguma seremos o anteparo dos
interesses burgueses. Em hipótese alguma, pactuaremos com os marxistas na obra
destruidora dos valores éticos da nacionalidade e da Cultura. Assim sendo, é claro
que soframos os rudes ataques das forças da anti-pátria, das forças dissociadoras
de cima e de baixo.
As Direitas querem conservar certas cousas
que tambem nós queremos que sejam conservadas. As esquerdas, por outro lado,
querem mudar e revolucionar determinadas cousas que nós tambem achamos necessário
mudar e revolucionar. Isto não quer dizer, porém, que nos identifiquemos com umas
ou com as outras. O que fizemos foi o estudo das pretensões de umas e de
outras, chegando à conclusão de que ambas possuíam parcelas da verdade, mas
parcelas da verdade que nada valiam isoladas ou postas umas contra as demais.
Integramos e superamos as duas correntes. Colocamo-nos acima delas para
Julga-las melhor. Harmonizamos o justo conservadorismo de umas com o justo revolucionar
ismo das outras. Surgimos, então, como uma força nova, com diretrizes ideológicas
preciosas, com uma linha de conduta inexoravelmente reta, e a intransigência própria
dos que estão animados de legítima vontade de construir para durar.
Não somos nem da Direita, nem da Esquerda,
porque não pertencemos a nenhuma classe, a nenhum grupo. Somos síntese porque a
Nação é síntese. Somos a integração dos valores espirituais e materiais da Pátria.
E na Pátria só os estrábicos enxergam direita e esquerda.
Publicado n’A RAZÃO, em 09 de Abril de 1937, p. 3.