domingo, outubro 19, 2008

O ETERNO E O EFÊMERO

Nota Explicativa:
O Texto a seguir é de Autoria de Genésio Pereira Filho, quando era Secretário Estadual de Estudos e Plano Governamentais do Diretório Estadual de São Paulo do Partido de Representação Popular (PRP). Escrito especialmente para a Revista Integralista “Avante!” (que se editava em Ribeirão Preto), alcançou enorme sucesso tendo sido republicado em diversos jornais e revistas, bem como editado várias vezes na forma de Folheto, também foi acolhido no Volume VIII da Enciclopédia do Integralismo. Mais recentemente tem sido difundido pela Internet, porém, constatamos que suas reproduções virtuais contém erros e, por isso, resolvemos reeditá-lo virtualmente, com tais erros devidamente expurgados. Todos os Integralistas devem ler e reler este Artigo, meditando-o.

Ser Integralista - Não ser Integralista (O Eterno e o Efêmero).

Genésio Pereira Filho*
Ser Integralista não é fácil. O Integralista aceita uma série de compromissos que não se rompem com desembaraço. E, antes de mais nada, ser Integralista significa tomar atitude, conhecendo a verdade da vida e crendo nela.
Que é tomar atitude? É tomar posição diante das crenças exatas em um momento histórico e através da dialética, pelos movimentos incessantes do devir, procurar chegar ao conhecimento da Verdade final. Que é esta Verdade final, senão a autenticidade da própria vida e a presença do homem, puro de alma, diante do Belo e do Bem?
Domina todo raciocínio a idéia de Verdade. E esta idéia de Verdade como pode ser atingida? Através do pensamento. Logo, tomar atitude é pensar. Diante do mundo cheio de mistérios, de terrores, de incertezas, de ameaças, diante das almas angustiadas e dos corações desesperados, ante destinos rotos e esperanças desfeitas, que faz o homem? Pensa. Procura penetrar as profundezas sem fim da destinação humana, na tentativa de projetar-se além dos mistérios e do incognoscível. Aí está o binômio capaz de criar o homem integral, aquele que dignifica a existência: razão e crença. Não podendo vislumbrar a Verdade última pela fragilidade das ciências, que se esboroam ante o mistério insondável do infinito, o homem sente necessidade de crer. E crendo, plasma uma realidade para tudo, para as coisas que o cercam e para os universos que adivinha, afirma-se na realidade do próprio mundo e caminha fortalecido pela pujança de sua presença animada de ideais.
Não é possível, portanto, crer sem colocar na crença toda força da alma e toda identificação. O ideal que domina o homem tem que ser aceito integralmente, sem reservas, completamente, perfeita e absolutamente. A raiz da verdade é profunda, e não admite superfícies. Vai ao âmago dos corações, enreda-se pelos escaninhos, domina, subjuga, absorve, consome, infiltra-se, penetra, impera, prevalece e prepondera. Não aceita limites. O ideal é ou deixa de ser si tomado em meio termo. Quem crê fá-lo radicalmente, ou não crê. Quem busca verdades parciais numa crença não conhece o pensamento exato, puro e último.
Quem crê revela uma essência. A essência designa e caracteriza o SER, aquilo que é, porque independe das relatividades existenciais. O SER não precisa estar em outro objeto para ser. É em si mesmo, sempre e necessariamente sujeito.
Não sendo nem atributo, nem acidente, nem substância, a essência marca o SER em sua permanência, enquanto tudo à sua volta possa mudar.
Uma essência, irrealizada em uma época, inaceitada, não perde nunca sua força de permanência, porque é eternamente viável. Por isso, costumo dizer que dois verbos diferenciam o Integralista dos demais políticos. Fiel a uma doutrina, que é essencial porque derivada de uma atitude tomada e pensada, não têm caracteres transitórios os gestos do Integralista.
SER e ESTAR são verbos. O Integralista é, afirma-se perenemente através de um movimento de idéias que a relatividade das existências jamais destruirá. Somos um movimento, não estamos num movimento. Afirmamos para a eternidade. O eterno supera o tempo, opõe-se mesmo ao tempo, cuja idéia constitui-lhe antinomia. O que é transitório tem começo e tem fim, vive no tempo e no espaço, submete-se ao devir, às contingências, à existência. Assim sendo, os que não são Integralistas estão simplesmente... Existem. Estão hoje na “União Democrática Nacional”, como estiveram ontem no “Partido Social Democrático” e estarão amanhã no “Partido Trabalhista Nacional”. O Integralista, ao invés, afirma: “EGO SUM”. Sou porque afirmo. Afirmo porque creio. Creio porque penso.
Se me perguntarem se sou de São Paulo, responderei que não. Estou em São Paulo, como estive há tempos em Ribeirão Preto e outrora em Jaboticabal, em Mococa, em Silveiras. Mas sou de São Bento do Sapucaí, minha terra natal, cujas montanhas enchem-me a alma de ideais e de fé; os pinheirais da Mantiqueira são símbolos de minha nobreza e a vibração telúrica do meu ser tem raízes nas escarpas e nas grotas, nas encostas íngremes e nos abismos insondáveis... Estou transitoriamente no asfalto, existo em superfícies, em paisagens de simplórios gramados, mas sou das montanhas de selvas indômitas, habitadas por mistérios e recordadas pelas lendas.
O Integralista é marcado pela continuidade constante do ser, que se revela na vida de ação permanente.
O homem que crê, aceita e elege. Aceitando e elegendo princípios, integra-se. Integrando-se, torna-se responsável. Já disse Julián Marías que a responsabilidade não é consecutiva ao ato humano, mas constitutiva dele mesmo. Sendo constitutiva, está em sua própria natureza. Não pode o homem, pois, titubear em sua vida, mas deve marcá-la pela decisão, sem o que não estará dando “presença” de si mesmo no mundo. Vagará por ele, como sombra tênue, como corpo sem alma. De indecisos está cheio o mundo. De cadáveres que fantasmagoriam cenários e criam universos tenebrosos. De cansados está saturada a terra. De reotropismo negativo está dominada a humanidade.
A existência tem que ser marcada pela atividade constante, pelo trabalho dos audazes e dos decididos, daqueles que ferem o mundo com atitudes firmes e o agridem com sonhos insólitos. Desses é o futuro, porque eles é que fazem a Beleza da Vida e são eles que redimem o gênero humano. Nada de liberalismos tolerantes, nada de totalitarismos negadores da dignidade humana. Precisamos de afirmações corajosas dos ideais abraçados. Sonhar pela Arte e realizar pela Ação, eis a vida bem vivida e bem sentida. Vida que, sendo um eterno presente, não pode abandonar a tradição nem deixar de mirar o futuro. Nação que esquece o passado perde a própria memória. Nação que não vive o presente avilta-se na covardia. Nação que não olha o futuro envenena-se pelos atos limitados do egoísmo.
O homem Integral, o homem eterno, este se apóia na memória dos povos, em sua história, realiza o presente com denodo e constrói para o futuro. Assim agindo, afirma sua essência, lutando contra o tempo que nada perdoa. Disse o filósofo que tudo é destruído pelo tempo, a mulher, a flor, as construções, os impérios, as palavras – ai deles! – o Tempo fá-los inexoravelmente perecer. Nem mesmo os sonhos são perdoados. Nem as obras de Arte. Há, contudo, algo que resiste: o Ideal. Com as obras de arte perece o Belo. Com o Ideal resiste o Sublime, que supera o Tempo.
Afirmemos, portanto, Integralistas, com bastante coragem, nosso Ideal. Afirmemos, porque ele resiste ao Tempo e existirá para sempre. Irrealizado hoje, se incapaz nossa geração de aceitá-lo, será possível no amanhã. “Ego Sum”. Somos um movimento para a Eternidade. E quem afirma para a Eternidade, caminha para o Bem Supremo, alvo último de nosso destino: DEUS.
(Transcrito da Revista “Avante!” – Ano 1 – Fevereiro-Abril de 1950 – Nº 2 – pág. 50).

* Σ – São Paulo (SP). Jurista.

sábado, outubro 18, 2008

Ascendino Leite critica a guerra de silêncio infligida a Plínio Salgado.

O renomado escritor Ascendino Leite, no seu afamado “As Coisas Feitas”, insuspeitamente, pois nunca foi Integralista, protesta contra o silêncio criminoso em relação a Plínio Salgado e sua Obra, eis o que ele diz:
“Plínio foi (é) um exemplo ilustrativo do que afirmo. Sua obra literária, propriamente dita, que abrange romances como O Esperado e O Estrangeiro, está a sofrer o obscurecimento planejado de historiadores e críticos engajados em campo oposto ao do inspirador do Integralismo, no sentido de destruir qualquer lembrança do valor dessa mesma obra.
“(...).
“Não me canso de ler essa Vida de Jesus, de Plínio Salgado, obra prima, duma grande, extraordinária perfeição. Sobre o tema, não há em português uma só que a supere sob qualquer aspecto em que se a aprecie. Linguagem, composição e estilo, tudo nela exprime o máximo das qualidades positivas dum escritor, dum poeta, dum mestre apaixonado pelo seu tema, sem exagero, sem heresia. Mais de vinte edições, uma dezena fora do nosso país, em outros idiomas.
“Mas entre nós quem fala nela? Silêncio completo. Até a Igreja Católica parece ignorá-la. Ninguém, nenhum crítico, nem mesmo Tristão de Ataíde, se abala a comentar a existência desse livro, não obstante a singular mensagem que nele se contém, - belíssimo monumento dedicado à propagação da divindade, da glória e da humanidade de Cristo. Livro tão importante quanto o de Renan. Bem mais perfeito e tocante que o de Mauriac.
“A censura política cegou o espírito crítico em nosso país e acabou transformando o seu autor num escritor maldito, e a sua considerável contribuição à nossa expressão literária, numa obra proibida”.
(Ascendino Leite – “As Coisas Feitas – Jornal Literário” – Rio de Janeiro – Eda Editora – 1980 – págs. 125 e 126).
Opinião de Cassiano Ricardo sobre Plínio Salgado.
Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia, Alfredo Ellis Jr., Plínio Salgado, Oswald de Andrade, Raul Bopp, Cândido Mota Filho, Tasso da Silveira e tantos outros constituíram a brilhante geração intelectual do Modernismo Brasileiro.
Cassiano Ricardo e Plínio Salgado, que participaram do Verde Amarelismo e da Anta, foram amigos por toda a vida, apesar de politicamente terem divergido, pois, Plínio Salgado, em 1932, criou o Integralismo, essencialmente democrático e pluralista, enquanto Cassiano Ricardo, em 1936, fundou a Bandeira, um movimento de cunho fascista, que acabou cooptado pelo totalitário Estado Novo, de Getúlio Vargas, em 1937. No seu Livro de Memórias, Cassiano Ricardo, nos dá um “3 x 4” de Plínio Salgado:
“Caipira do Vale do Paraíba mas civilizado; pode-se incluir na família intelectual de Lobato e Euclides pelo feitio pessoal, teluricamente brasileiro. Inquieto, instantâneo para escrever; mas a um só tempo, capaz de graves reflexões sociológicas, artísticas, “poiéticas” que exigiam vagar. Vivo como corrupira no seu poder de invenção, era cinético no seu convívio. Capacidade de comando e de proselitismo. Mas esse já é outro capítulo que não cabe nos idos do grupo Verde-Amarelo ou do Correio Paulistano. Nem nessa ficha de identificação”.
(Cassiano Ricardo – “Viagem no Tempo e no Espaço” – Rio de Janeiro – Civilização Brasileira – 1970 – XVI + (1) + 330 págs.; transcrição da pág. 35, nota 1).