sexta-feira, julho 04, 2008

GUSTAVO BARROSO













Sérgio de Vasconcellos

Em Outubro de 1932, Plínio Salgado fundou o Integralismo. Nos meses subseqüentes, centenas de Núcleos Integralistas surgiram por todo o País. Em fins de 1932, Ovídio Gouvêa da Cunha, um jovem estudante de Sociologia, ouvindo falar em Integralismo, dirige-se a São Paulo, e lá, encontra-se com Plínio Salgado e M. Reale, dividindo a mesma mesa, numa modesta sala na Av. Brigadeiro Luis Antônio Nº 12, a primeira Sede Nacional da A.I.B. O próprio Plínio Salgado fornece-lhe alguns exemplares do Manifesto de Outubro. Voltando ao Rio, Ovídio Cunha – que aderira ao Sigma -, encontra-se com Gustavo Barroso e entrega-lhe um dos Manifestos, que recebera das mãos do Chefe Nacional. Esse foi o primeiro contato do Autor de “Terra do Sol” com a Doutrina Integralista.
Prosseguindo em sua tarefa Revolucionária, Plínio Salgado vem ao Rio, em 1933, e pronuncia uma série de Conferências Doutrinárias no Salão da Associação dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro. Ao final de uma delas - em que demonstrava como a Filosofia Integralista conciliava o livre arbítrio, o determinismo e o providencialismo -, um homem dirige-se a Plínio Salgado e pede simplesmente um distintivo, o Chefe retirou o que usava na lapela e presenteou o desconhecido. Tratava-se de Gustavo Barroso, e esse foi o seu segundo e decisivo contato com o Integralismo.
Ainda nesse ano de 1933, Plínio Salgado lança os dois primeiros livros Integralistas – “Psicologia da Revolução” e “O que é o Integralismo” -, e parte junto com Thiers Martins Moreira, Capitão Aristófanes do Vale e Hermes Barcelos, na Primeira Bandeira Integralista, que singrou diversos Estados, chegando até o Ceará, de onde iniciou o retorno ao Rio de Janeiro. Em Vitória, Capital do Espírito Santo, Plínio Salgado encontra-se novamente com Barroso – que publicara “O Integralismo em Marcha”, o terceiro livro Integralista – e com Madeira de Freitas - médico afamado e escritor muito conhecido sob o pseudônimo de Mendes Fradique -, um dos principais articuladores do Movimento no Rio de Janeiro.
Gustavo Barroso, Joaquim de Araújo Lima, Plínio Salgado, Manoel Ferraz Hasslocher e Raimundo Barbosa Lima (Matinas de Abril, no Rio de Janeiro).
O ingresso de Gustavo Barroso na Ação Integralista Brasileira causara grande impacto na opinião pública, pois, Barroso era figura de projeção nacional e internacional. Fundador do Museu Histórico Nacional, Presidente da Academia Brasileira de Letras, ex-Deputado Federal, Folclorista, Historiador, Museólogo, Romancista, Contista, enfim, um homem brilhante, inteligentíssimo, com vasta produção literária em vários campos do conhecimento, só superado por Coelho Neto em quantidade de livros editados. No Integralismo foi Chefe da Milícia, e com a extinção desta, Secretário Nacional de Educação (Moral, Cívica e Física) da A.I.B. Escreveu os seguinte Livros Integralistas: “O Integralismo em Marcha”, “A Palavra e o Pensamento Integralista”, “O Integralismo de Norte a Sul”, “Brasil – Colônia de Banqueiros”, “História Militar do Brasil”, “Integralismo e Catolicismo”, “Espírito do Século XX”, “O que o Integralista deve saber”, “O Quarto Império”, “Comunismo, Cristianismo e Corporativismo” e outros. A leitura, não apenas de suas Obras Integralistas, mas de todos os seus Livros, é recomendável a todos os Brasileiros, particularmente, aos Integralistas, pois, neles se aprende Brasil.


Ovídio Cunha

O Integralismo


O INTEGRALISMO

Gustavo Barroso
O Integralismo não é um partido político, nem de modo algum deve ser confundido com qualquer partido político. Os partidos representam interesses parciais dum grupo de eleitores organizados à sombra dum programa destinado à duração dos mandatos daqueles que elege. O Integralismo põe o interesse da Nação acima de todos os interesses parciais ou partidários e se guia por uma doutrina, não por um programa.
Programa é um projeto ou resolução daquilo que se pretende fazer em um tempo determinado. Doutrina é um conjunto de princípios filosóficos, morais e científicos no qual se baseia um sistema político por tempo indeterminado. A diferença é essencial. Uma doutrina dá origem à incalculável número de programas. Um programa não produz nenhuma doutrina.
- Se não é partido, que é, então, o Integralismo? – perguntarão todos quantos se viciaram em compreender a política como simples jogo e manejo de partidos.
O Integralismo é uma Ação Social, um Movimento de Renovação Nacional em todos os pontos e em todos os sentidos. Prega uma doutrina de renovação política, econômica, financeira, cultural e moral. Prega essa doutrina, completa-a e a amplifica constantemente com seus estudos, e prepara os homens capazes de executar as medidas dela decorrentes. Abrange, nos seus postulados, indagações e finalidades, todas as atividades nacionais. Bate-se, não por um programa partidário regional ou local, - autonomista, evolucionista, constitucionalista, partido republicano mineiro, partido republicano paulista, partido democrático, etc.; mas pela construção duma Grande Pátria dentro duma doutrina que contenha princípios definidos desde as concepções do Mundo e do Homem até às dos fatores materiais econômicos.
Isto é uma Política, da qual decorre uma administração. Os partidos somente são capazes de chegar até um programa de administração. O Integralismo constrói uma Doutrina Política, em conseqüência da qual poderá formular inúmeros programas de administração.
Por isso, o Integralismo não compreende e não quer o Brasil partido, dividido: dum lado, o povo alistado em dezenas e mesmo centenas de partidos, votando em milhares de legendas que sub-partem os partidos, sempre contrário ao governo, como se este fosse seu pior inimigo; dum lado, o povo iludido pelos politiqueiros, contrapondo-se ao Estado que o esfola com os impostos; do outro, esse Estado manobrado pelo partido que dele se apoderou por meio do voto, oscilando ao sabor das forças paralelas a ele – corrilhos eleitorais ou financeiros, etc., tornado meio de satisfazer apetites, quando deve ser um fim para satisfazer o bem público; mas compreende e quer o Brasil - Unido, isto é, o Brasil - Integral, com o Estado e a Nação confundidos num todo indissolúvel.
O Estado não deve ser somente o governo, a administração dum país. A Nação não deve ser somente a comunidade dos indivíduos unidos pela origem, pela raça, pela língua ou pela religião sob o mesmo regime político. A Nação e o Estado devem integrar-se num corpo só, na mesma associação de interesses e de sentimentos, confundindo-se na mesma identidade e para os mesmo fins.
Na Doutrina Integralista, a Pátria Brasileira deve ser uma síntese do Estado e da Nação, organizada sobre a base corporativa. A sociedade humana não vale somente pelo que apresenta aos nossos olhos; vale muito mais ainda pelo que nela existe e não conseguimos ver, isto é, as forças ocultas do seu Passado e do seu Espírito. Os homens prendem-se ao Passado através de seus ascendentes, cujas características essenciais herdam, cujas conquistas morais, intelectuais, técnicas e materiais lhes são transmitidas como um verdadeiro patrimônio. Essa herança é a civilização e nela as gerações que se sucedem são solidárias.
Compostas de homens, as Nações ligam-se ao passado pelas suas tradições de toda a espécie. Enraizada nelas é que a Pátria Brasileira deve florescer no Presente para frutificar no Futuro.
O regime corporativo une os sindicatos de trabalhadores, de técnicos e de patrões, coordena seus esforços e transforma-os de organismos políticos de luta em organismos políticos, sociais, econômicos, morais, educativos, de equilíbrio e de cooperação.
Afim de realizar o que pretende, o Integralismo não apela, como os extremistas, para a brusca subversão da ordem social e conseqüente inversão de todos os seus valores, para os atos de banditismo, vandalismo ou terrorismo, para bombas de dinamite e atentados pessoais, para sabotagens e greves que ainda mais precária tornam a situação do pobre operário; mas para o valor do próprio homem, sua dignidade de ser pensante, suas virtudes patrióticas, suas reservas morais, sua tradição religiosa e familiar, seu amor pelo Brasil, sua crença em Deus!
Querendo a grandeza da Pátria Brasileira, o Integralismo por ela se bate em todos os sentidos. Essa grandeza somente pode alicerçar-se na alma das massas trabalhadoras de todo o país, libertadas ao mesmo tempo da exploração econômica do capitalismo sem pátria e da exploração política dos caçadores de votos ou dos extremistas fingidos, que falam em nome de operários e camponeses sem serem nem operários, nem camponeses.
Pelo Integralismo, a grandeza da Pátria Brasileira se fará pela renúncia dos interesses pessoais em favor dos interesses nacionais, a pureza dos costumes públicos e privados, a simplicidade da vida, a modéstia do proceder, a integridade da família, o respeito à tradição, a garantia do trabalho, o direito de propriedade com seus deveres correlatos, o governo com autoridade moral e mental, a unidade intangível da Nação e as supremas aspirações do espírito humano.
Integralismo quer dizer soma, reunião, integralização de esforços, de sentimentos, de pensamentos, ao mesmo tempo de interesses e de ideais. Não pode ser um simples partido. É coisa muito mais elevada. É um movimento, uma ação, uma atitude, um despertar de consciências, um sentido novo da vida, a marcha de um povo que desperta!
Batendo-se pela felicidade do Brasil dentro das linhas de seus grandes destinos, condicionadas pelas suas realidades de toda a ordem, o Integralismo quer que o pensamento dos brasileiros não se divida e enfraqueça na confusão de doutrinas ou programas; quer que se una e some ao influxo de uma mesma doutrina político-social. Porque essa base doutrinária é imprescindível para a construção do ESTADO INTEGRAL BRASILEIRO, ESTADO HERÓICO pela sua capacidade de reação e de sacrifício, ESTADO FORTE pela sua coesão, sem fermentos desagregadores dentro de si, no qual, como fator indispensável de independência, se tenha processado a emancipação econômica e, como condição principal da unidade da Nação, tenham desaparecido as fronteiras interestaduais.
Para a realização de tão grande obra política, econômica e social, o Integralismo tem de combater sem tréguas e sem piedade toda a repelente imoralidade do atual regime de fraudes, enganos, corrupção e promessas vãs, bem como todo o materialismo dissolvente da barbárie comunista que alguns loucos apontam como salvação para nosso país. O atual regime pseudo-liberal e pseudo-democrático é um espelho da decadência a que chegou o liberalismo, que procurou dividir a nação com regionalismos e separatismos estreitos, implantando ódios entre irmãos, atirados às trincheiras da guerra civil; com partidos políticos transitórios que sobrepõem as ambições pessoais aos mais altos interesses da Pátria e pescam votos, favorecendo os eleitores com um imediatismo inconsciente, em que tudo concedem ou vendem, contanto que atinjam as posições.
Esse regime fraco e vergonhoso escravizou o nosso Brasil, o pouco capital dos brasileiros e o trabalho das nossas populações abandonadas ao banqueiro internacional por um criminoso sistema de pesados, aladroados e sucessivos empréstimos externos, cuja funesta e primeira conseqüência é o esfolamento pelos impostos.
O comunismo que agitadores estrangeiros, aliados a brasileiros vendidos ou inconscientes, inimigos da Pátria, nos prometem, quer a destruição das pátrias, da propriedade e da família, a proletarização das massas e a materialização do homem em todos os sentidos. Tirando ao indivíduo suas crenças e tradições, sua vida espiritual e sua esperança em Deus, sua família – que é sua projeção no Tempo -, e sua propriedade – que é sua projeção no Espaço -, arranca-lhe as forças de reação, todos os seus sentimentos, deixa somente a fera humana e prepara-o, assim, para definitiva escravização ao capitalismo internacional disfarçado em capitalismo de Estado.
O Povo Brasileiro debate-se em verdadeira angústia econômica e anseia por novo padrão de vida; debate-se numa completa desorganização de sua existência pública e almeja nova forma de justiça social; debate-se em formidável anarquia de valores e na incultura geral, e precisa formar sem detença homens escolhidos que possam resolver os grandes e graves problemas da Nação.
Urge a transferência completa do Brasil para salvá-lo, novo conceito de vida, novo regime, novo quadro de valores. Essa transformação completa, integral da Sociedade Brasileira fatalmente terá de ser o resultado duma transformação completa, integral da Alma Brasileira no sentido do rigoroso cumprimento de todos os deveres para com a Família, para com a Pátria e para com Deus.
A lição de Jacques Maritain manda a Razão submeter-se a Deus, que é Espírito, e à Ordem Espiritual por Ele instituída.
Só uma Revolução Moral pode produzir uma grande, digna e benéfica Revolução Social. Porque esta é projeção daquela. Por isso, a Doutrina Integralista afirma que a primeira revolução do Integralismo é a Revolução Interior.
(Transcrito das págs. 9 até 16 de “O que o Integralista deve saber”. 1ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1935, 214 págs.)